Martim Gonçalves
Homem de Teatro
Martim Gonçalves, cujo nome completo era Eros Martins Gonçalves Pereira, nasceu no Recife no dia 14 de setembro de 1919 e faleceu em 18 de março de 1973. Foi um prolífico diretor de teatro, cenógrafo, pintor, desenhista, escritor e professor.
Embora a lista completa de suas obras seja extensa, aqui estão alguns destaques:
Martim foi um nordestino do mundo, nascido no Recife e diretor na segunda fase do Modernismo Teatral Brasileiro. Ele construiu carreira sólida no Rio de Janeiro e São Paulo, com passagem fulminante por Salvador. Pertencia à geração de Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho e João Cabral de Melo Neto, de quem era amigo, tendo com este inclusive dividido apartamento quando recém-chegados à capital carioca, no início dos anos 1940. Como diretor de teatro, ele encenou textos de inspiração expressionista de autores como Roger Vitrac, Jean Genet e Nelson Rodrigues. Ele fundou o grupo Teatro Novo no Teatro Maison de France com o objetivo de encenar peças de autores de vanguarda, polêmicos e inovadores. Ele foi co-fundador do Tablado, no Rio de Janeiro, com Maria Clara Machado, tendo esse nome sendo escolhido por ele.
Foi bolsista do British Council em Londres por muitos anos e organizou numerosas trocas pioneiras entre instituições e artistas britânicos e brasileiros durante e após a Segunda Guerra Mundial.
Na Bahia, ele criou a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba) nos anos 1950, a primeira Escola de Teatro do país ligada a uma instituição de ensino superior. A administração Martim da Escola de Teatro (ET) da UFBA (1956-1961) marcou indelevelmente a formação de artistas que aí estudaram ou frequentaram, e que, por sua vez, se tornaram expoentes na cultura nacional como os atores Othon Bastos, Geraldo del Rey, Antônio Pitanga, Mário Gusmão, Helena Ignez e Jurema Penna, os cantores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé e o cineasta Glauber Rocha, entre muitos outros. Ele também criou a Escola da Criança do MAM na Bahia, um projeto que ele liderou com a arquiteta Lina Bo Bardi.
De volta ao Rio de Janeiro, ele foi crítico de teatro do jornal O Globo. Seu legado abrange muitas facetas das artes cênicas e visuais do país. Ele deu aulas de interpretação no MAM RJ e de indumentária histórica na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio. Diretor, crítico, cenógrafo, figurinista, professor, produtor e tradutor de obras da dramaturgia mundial que hoje fazem parte do repertório em língua portuguesa (O Balcão, de Jean Genet), Martim foi “indiscutivelmente, um dos homens de teatro mais completos do país” que desempenha tudo “com talento e rigor”, nas palavras do crítico Yan Michalski.
Explicar como a sua contribuição para a Cultura Nacional foi um importante braço para as correntes baianas que desenvolveram o Cinema Novo e o Tropicalismo é um ato de extrema necessidade para a compreensão do funcionamento das práticas das produções artísticas nesse país. Essa afirmação é a essência da tese de doutoramento de Jussilene Santana, ainda hoje inédita.